segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

PARÁ - Continuação

OS DIAS EM TUCUMÃ
Os dias que se passaram foram de muito trabalho. O período que eu não estava na Vale, passei dentro do quarto do hotel, no escritório que improvisamos. A intenção era permanecermos em Ourilândia do Norte, mas não encontramos hotel que nos atendesse.

Ourilândia do Norte é uma cidade nova, surgiu em 1989. Ainda tem pouquíssima infraestrutura. Muita desordem, muita motocicleta. Praticamente, a cidade toda está em construção. Não se vê polícia. As pessoas daqui, assim como as de Marabá, são arredias, sisudas, sem muita hospitalidade e cordialialidade.

Rodamos o dia inteiro numa estrada horrível, cheia de buracos. Parecia que não íamos chegar nunca em Ourilândia. Já era quase noite quando chegamos, exaustos, impacientes para procurarmos um local para hospedar.

Partimos para Tucumã, onde encontramos um hotel razoável, onde pudéssemos permanecer provisoriamente, até nos instalarmos definitivamente na cidade.

No domingo dia 10, apenas dormimos. Não conseguimos fazer nada.

Na segunda, dia 11, fomos direto para o Projeto, ressabiados, pois, não sabíamos o que nos esperava lá. Estamos com uma obra atrasada há meses, e por isso, não sabíamos ao certo como reagir ou comportar diante dos gestores.

Ao contrário do que pensamos, a cidade não respira “Vale”, e as pessoas daqui não parecem muito satisfeitas com a implantação. O projeto está instalado entre reservas indígenas. A montanha que será explorada é uma montanha rica em ouro e níquel. São famosas por aqui. Uma chama-se Onça e a outra Puma. Daí, o nome de batismo do projeto “Onça Puma”. Tudo por aqui, ou tem nome de índio, ou tem o nome das serras.

A cidade onde estamos chama-se Tucumã, e fica a oito quilômetros de Ourilândia. É um município notadamente mais rico do que Ourilândia. Possui um comércio relativamente ativo, bancos importantes, como o Banco do Brasil e Bradesco, e o progresso parece ter chegado mais rápido do que em Ourilândia.

Um fato curioso é a cidade de Ourilândia do Norte se chamar do norte e não do sul, já que se situa no sul do Pará.

Aqui, açaí, catuaba, castanhas são frutas comuns. Tem em todo lugar. São delícias extremamente calóricas e irresistíveis.

Para mobilizar meu pessoal para trabalhar, percorri a via crucis. Foram 5 dias de muito desgaste, de muita agitação. O sol caustigante, a pouca água, a comida ruim, foram fatores contribuintes para meu mal estar rotineiro. Contei com pouco apoio da Vale. Era eu sozinho, no meio de tantas pessoas exigindo documentos. Uma burocracia exagerada. Exames médicos, autorização para atividade crítica, confecção de crachá, autorização para treinamento... tudo isso foi uma verdadeira saga.

Fiz amizades com muita gente por aqui. A Vanessa, da Portaria, já estava acostumada com minhas idas e vindas. Todas as vezes, descia de carona até a área administrativa do projeto porque não tinha autorização para trafegar com o veículo.

Lá dentro, ir e vir, desnorteado, é uma coisa comum para quem está chegando. Ninguém sabe de nada, ninguém tem informação sobre nada. E o pior: ninguém se esforça para ajudar.

Na hora do almoço, meu desespero era maior. Eu tinha de sair perguntando para um e para outro, se ele ia subir para o restaurante, e se podia me dar carona. Ouvir “não posso” era natural e eu não desistia até conseguir.

Foi assim que consegui, a duras penas, cumprir minha missão nesta longa viagem.

Não posso deixar de registrar que meus colegas são pessoas extremamente bem humoradas e de bem com a vida. Que enfrentaram e ainda estão enfrentando toda a situação com muito otimismo. Eles vão permanecer por aqui por mais algum tempo. Possivelmente por seis meses. Vou sentir falta deles, de nossas brincadeiras, piadas, molecagem... tudo para facilitar o trabalho longe de casa e da família.

Hoje porém, o Cristhiano permaneceu o dia todo meio caído, calado. Não quis conversar muito, não quis brincadeiras. Respeitamos, mas gostaríamos de poder fazer algo para alegra-lo. Tentamos de tudo. Em vão. É noite, e ele ainda permanece pensativo. Tenho que entender que ele está começando a cair em si. Perceber que está longe de sua família, namorada, mãe, irmãos, amigos. Que deixou uma vida em Mariana, lá em Minas Gerais, para viver aqui, longe de tudo e de todos, numa terra desconhecida do Pará. Veio com coragem, passar um trechinho de sua vida em uma terra de índios e pessoas mal humoradas, ríspidas. Pessoas que não se preocupam em te comprimentar. Sorrisos são raros por aqui. Exceto quando a gente se encontra com um mineiro. Encontramos vários por aqui. Foi uma surpresa agradabilíssima. A médica assistente da SEMETRA foi gentil, atenciosa e simpática. Logo percebi, não podia ser daqui, com todo perdão aos paraenses. E ela me revelou que é de Minas, de Passos. Também não posso ser injusto e desconsiderar as exceções que também existem nesta regra horrorosa. Duas ou três pessoas do Pará foram gentis conosco. Foi o caso do chef do restaurante da ICEC, o Diego; também a recepcionista da SEMETRA, algumas atendentes do Pumas Hotel. Fizeram a diferença para nós.

As noites aqui são estranhas e medonhas. Respira-se insegurança e medo. Os homens andam armados, freqüentam lugares estranhos que são points da cidade, e não mexem com as mulheres que passam nas ruas. Ninguém mexe, ninguém elogia. Parece um código ético da cidade. Ninguém se mete com ninguém.

O trânsito é uma vergonha. Motociclistas transitam por todo lado, não sinalizam, entram na frente dos carros (que são a minoria), e ninguém briga por causa da barberagem alheia. Mulheres, moças e até crianças pilotam motos para cima e para baixo. Todos sem capacete, claro. Percebemos senhoras sexagenárias pilotando moto “Biz”, sem a menor preocupação pelas ruas da cidade.

À noite, a polícia quase nunca aparece. O que torna a cidade ainda mais assustadora. Carretas transportam toras de madeira pelas ruas, com certeza, ilegais e clandestinas. Isso é comum por aqui.

Perto daqui há um posto da Receita, mas nunca vimos ninguém por lá, a não ser uma senhora que faz a limpeza. Hoje vimos um veículo plotado com as marcas do governo, mas ninguém estava fiscalizando os caminhões ou carros que passavam. Vista grossa do Estado? Quem pode dizer, não é mesmo?

Amanhã, dia 18, vou descer para Xinguara e Parauapebas. Também não sei o que me espera por lá. Mas tenho certeza de que também terei ótimos resultados.

E essas são as observações finais de Tucumã e Ourilândia.

Até a próxima

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